quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Carreira internacional: vale a pena? Como conseguir?


 

Woody Allen uma vez disse: “se você quer fazer Deus rir, conte a ele seus planos”. Essa frase me bateu forte, porque adoro fazer planos e aos 10 anos já tinha projetado toda a minha carreira profissional.

E até que começou alinhado; planejei estudar em boas escolas, me mudar para São Paulo e me graduar em Administração em uma boa universidade. Tudo fluiu como planejado até a formatura que, por ironia do destino, ocorreu no auge da crise de 2008-2009.

Foi aí que Deus começou a rir dos meus planos. Eu, que tinha certeza de que continuaria a vida toda em São Paulo, acabei indo para Ribeirão Preto, Belo Horizonte, Madri, Nova Iorque, Lisboa e, agora, estou de volta ao Brasil, sem nunca mais morar em São Paulo.

Não posso reclamar. Pelo contrário, os planos de Deus foram muito mais interessantes que os meus, por isso, sinto quase que um dever em tentar ajudar quem sonha com algo assim. E começo dizendo que se você pensa mesmo em uma carreira internacional, há três coisas importantes: vontade, estar aberto às oportunidades e, principalmente, coragem.

A vontade é o passo um, mas não pode parar aí; você tem de correr atrás, se especializar e buscar oportunidades. Conheci pessoas que diziam que o seu sonho era viver no exterior, mas não tinham passaporte nem estudavam inglês. Vontade sem ação não vai te levar a lugar nenhum.

A segunda coisa é estar aberto às oportunidades. Nesse quesito, tive sorte por estar em uma excelente empresa que visa o crescimento dos seus funcionários, a GSKCH, uma empresa que sempre me apoiou e abriu diversas portas para mim. Claro que não era como um buffet, onde a empresa apresenta opções e você escolhe; o que uma multinacional sólida e com programas de desenvolvimento pode oferecer é um caminho, contatos, mentores e oportunidades.

Algumas vezes temos que nos adaptar ao momento. Minhas mudanças de país acabaram sendo atrasadas ou antecipadas em meses para adequar o que eu buscava com o momento da empresa. Aceitar e me adaptar a isso foi fundamental. Quanto mais exigências você coloca, como “quero ir para o país X”, “trabalhar na área Y”, “na data W”, etc., menos chance tem de conseguir. No meu caso, o único requisito que coloquei foi “quero ir”; deixei o onde, quando e para fazer o que nas mãos do destino e fui me adaptando às oportunidades que surgiam. Comecei em Vendas, fui para Estratégia, Marketing e agora estou em uma posição regional.

Claro que estar preparado para essas oportunidades é essencial; precisa falar inglês e o idioma do país para o qual quer ir (assim como um estrangeiro teria problemas no Brasil falando apenas inglês, você terá no exterior se não falar o idioma local). Também é importante ter uma boa qualificação profissional e ter um curso de Mestrado profissionalizante ou MBA feito no país de destino (vale outro país do mesmo continente se o objetivo for Europa) ajuda. Nesse texto conto um pouco como foi o MBA para mim.

E, claro, abuse do networking. Busque brasileiros, pessoas que estudaram na mesma universidade que você, amigos de amigos... toda ajuda é válida nessa jornada. Mas não chegue dizendo “você tem um emprego pra mim?”; faça um networking de qualidade, tente realmente conhecer a pessoa, entender sua trajetória e a indústria que ela está e busque um mentor para lhe guiar. Na GSK CH, tive mentores incríveis que foram fundamentais na minha jornada. O networking nem sempre leva diretamente a uma vaga, ele te ajuda a entender o mercado, conhecer a empresa e se preparar para entrevistas e processos seletivos.

Vale ressaltar que há vezes que você acaba precisando fazer um downgrade na carreira, mas, se o objetivo for mesmo mudar de país, vale muito a pena. Conheço pessoas com anos de experiência que tiveram de recomeçar na Europa como estagiários e estão muito felizes com a decisão. Infelizmente, a nossa faculdade e experiência no Brasil tem um peso menor quando olhado lá de fora.

Mas nem tudo são flores, por isso você precisa de muita coragem. À primeira vista pode parecer fácil morar fora do seu país, mas não é. Você precisa se adaptar a um ambiente novo, clima diferente, cultura e costumes “estranhos” e uma comida nova para seu paladar. Nesses sete anos, eu comi em algumas das melhores cozinhas do mundo, mas não imaginam a saudade que tive de um feijão, uma calabresa ou um bom requeijão cremoso.

Deixar sua família, amigos e cultura não é simples, poucos realmente se adaptam. Eu mesmo decidi voltar depois de sete anos e uma carreira bem consolidada, pois queria estar próximo da família e fez sentido do meu lado pessoal. Eu tive a sorte e a alegria de estar em uma empresa incrível, a GSK CH, que me não só me abriu portas pelo mundo, como também me entendeu e apoiou imensamente quando eu decidi voltar. No entanto, nem todos tem essa sorte e é importante saber que muitas vezes a volta é tão complexa quanto a ida para o exterior.

Mas claro, existem milhares de vantagens. Viver uma experiência assim é transformacional, muda sua perspectiva de mundo, te permite visitar lugares diferentes e maravilhosos, te apresenta novas culturas, dá uma boa incrementada no currículo, liberta das amarras de falar em outro idioma, te mostra diversas formas de fazer negócio e, principalmente, te ensina a valorizar as pequenas coisas, momentos e pessoas da vida.

Por fim, voltando à pergunta inicial, se você ainda tem dúvidas se “vale a pena” ... bom, claro que essa é uma decisão muito individual onde o lado pessoal e profissional devem ser olhados com cuidado, mas posso responder que, por mim, valeu MUITO a pena!

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