Woody Allen uma vez disse: “se você quer fazer Deus rir, conte a ele seus planos”. Essa frase me bateu forte, porque adoro fazer planos e aos 10 anos já tinha projetado toda a minha carreira profissional.
E até que começou
alinhado; planejei estudar em boas escolas, me mudar para São Paulo e me graduar
em Administração em uma boa universidade. Tudo fluiu como planejado até a formatura
que, por ironia do destino, ocorreu no auge da crise de 2008-2009.
Foi aí que
Deus começou a rir dos meus planos. Eu, que tinha certeza de que continuaria a
vida toda em São Paulo, acabei indo para Ribeirão Preto, Belo Horizonte, Madri,
Nova Iorque, Lisboa e, agora, estou de volta ao Brasil, sem nunca mais morar em
São Paulo.
Não posso
reclamar. Pelo contrário, os planos de Deus foram muito mais interessantes que
os meus, por isso, sinto quase que um dever em tentar ajudar quem sonha com
algo assim. E começo dizendo que se você pensa mesmo em uma carreira
internacional, há três coisas importantes: vontade, estar aberto às
oportunidades e, principalmente, coragem.
A vontade
é o passo um, mas não pode parar aí; você tem de correr atrás, se especializar
e buscar oportunidades. Conheci pessoas que diziam que o seu sonho era viver no
exterior, mas não tinham passaporte nem estudavam inglês. Vontade sem ação não vai
te levar a lugar nenhum.
A segunda
coisa é estar aberto às oportunidades. Nesse quesito, tive sorte por
estar em uma excelente empresa que visa o crescimento dos seus funcionários, a GSKCH, uma empresa que sempre me apoiou e abriu diversas portas para mim. Claro
que não era como um buffet, onde a empresa apresenta opções e você escolhe; o
que uma multinacional sólida e com programas de desenvolvimento pode oferecer é
um caminho, contatos, mentores e oportunidades.
Algumas
vezes temos que nos adaptar ao momento. Minhas mudanças de país acabaram sendo
atrasadas ou antecipadas em meses para adequar o que eu buscava com o momento da
empresa. Aceitar e me adaptar a isso foi fundamental. Quanto mais exigências você
coloca, como “quero ir para o país X”, “trabalhar na área Y”, “na data W”, etc.,
menos chance tem de conseguir. No meu caso, o único requisito que coloquei foi
“quero ir”; deixei o onde, quando e para fazer o que nas
mãos do destino e fui me adaptando às oportunidades que surgiam. Comecei em Vendas,
fui para Estratégia, Marketing e agora estou em uma posição regional.
Claro que
estar preparado para essas oportunidades é essencial; precisa falar inglês e o
idioma do país para o qual quer ir (assim como um estrangeiro teria problemas
no Brasil falando apenas inglês, você terá no exterior se não falar o idioma
local). Também é importante ter uma boa qualificação profissional e ter um curso
de Mestrado profissionalizante ou MBA feito no país de destino (vale outro país
do mesmo continente se o objetivo for Europa) ajuda. Nesse texto conto um pouco como foi
o MBA para mim.
E, claro, abuse
do networking. Busque brasileiros, pessoas que estudaram na mesma universidade
que você, amigos de amigos... toda ajuda é válida nessa jornada. Mas não chegue
dizendo “você tem um emprego pra mim?”; faça um networking de qualidade,
tente realmente conhecer a pessoa, entender sua trajetória e a indústria que
ela está e busque um mentor para lhe guiar. Na GSK CH, tive mentores incríveis
que foram fundamentais na minha jornada. O networking nem sempre leva
diretamente a uma vaga, ele te ajuda a entender o mercado, conhecer a empresa e
se preparar para entrevistas e processos seletivos.
Vale ressaltar
que há vezes que você acaba precisando fazer um downgrade na carreira,
mas, se o objetivo for mesmo mudar de país, vale muito a pena. Conheço pessoas
com anos de experiência que tiveram de recomeçar na Europa como estagiários e
estão muito felizes com a decisão. Infelizmente, a nossa faculdade e
experiência no Brasil tem um peso menor quando olhado lá de fora.
Mas nem
tudo são flores, por isso você precisa de muita coragem. À primeira
vista pode parecer fácil morar fora do seu país, mas não é. Você precisa se
adaptar a um ambiente novo, clima diferente, cultura e costumes “estranhos” e
uma comida nova para seu paladar. Nesses sete anos, eu comi em algumas das
melhores cozinhas do mundo, mas não imaginam a saudade que tive de um feijão,
uma calabresa ou um bom requeijão cremoso.
Deixar sua
família, amigos e cultura não é simples, poucos realmente se adaptam. Eu mesmo decidi
voltar depois de sete anos e uma carreira bem consolidada, pois queria estar
próximo da família e fez sentido do meu lado pessoal. Eu tive a sorte e a
alegria de estar em uma empresa incrível, a GSK CH, que me não só me abriu
portas pelo mundo, como também me entendeu e apoiou imensamente quando eu
decidi voltar. No entanto, nem todos tem essa sorte e é importante saber que muitas
vezes a volta é tão complexa quanto a ida para o exterior.
Mas claro,
existem milhares de vantagens. Viver uma experiência assim é transformacional,
muda sua perspectiva de mundo, te permite visitar lugares diferentes e
maravilhosos, te apresenta novas culturas, dá uma boa incrementada no
currículo, liberta das amarras de falar em outro idioma, te mostra diversas
formas de fazer negócio e, principalmente, te ensina a valorizar as pequenas
coisas, momentos e pessoas da vida.
Por fim,
voltando à pergunta inicial, se você ainda tem dúvidas se “vale a pena” ...
bom, claro que essa é uma decisão muito individual onde o lado pessoal e profissional
devem ser olhados com cuidado, mas posso responder que, por mim, valeu MUITO a
pena!
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